No nordeste do meu Brasil
Um santo surgiu no Ceará
Nasceu para liderar e servir
A Deus e a Jesus a quem lhe convir
Em Angico nascia um filho de lavrador
Criança brincava com os visinhos
Cresceu viajando pelos sertões
Um bando se formou trazendo alucinações
Um padre foi forjado com fome e miséria
E um caso aconteceu de uma devota
A hóstia vira sangue numa terra remota
E faz da vida do padre uma reviravolta
Uma briga de visinhos
Correram pra lhe matar
O pai não esperava o tiro lhe acertar
O ódio pelo visinho começou a alentar
Para Roma foi chamado e o fato foi contar
Queria o vaticano o boato não espalhar
Mas o povo que viu logo se manifestou
E o padre Ciço Romão o povo todo clamou
Com a morte do pai na lembrança
E o ódio no coração foi pro bando
Senhor Pereira era o seu capitão
E Virgulino Ferreira vai virar Lampião
A igreja o excomungou
Seu coração de padre se fechou
Mas tinha uma sina nesta vida
Era auxiliar o pobre o sofredor
A cada emboscada ficava mais evidente
Um grande líder Lampião viria a ser
Destaque nos ataques e tática de fugir
Do cerco da polícia num grito escapulir
O povo do Juazeiro faz-lhe de prefeito
E o líder espiritual volta com força
A liderança e as idéias do homem
Fizeram uma cidade surgir
A separação do bando de sinhôr
Fez brotar um grande clarão
Outro bando foi formado
O chefe Virgulino Ferreira foi aclamado
Sua batina jamais foi esquecida
omeiro de toda parte surgiam
No Juazeiro encontrava um santo
Rezavam e se ajoelhavam e agradecia
O bando de Lampião ao longe se ouvia
De jagunços malvados todos tremiam
Sabonete, Risadinha, corisco e colchete
O povo já se via tiros sangue nos dentes
Sua morte foi anunciada
O povo não entendeu o recado
E via no homem sem pecado
Sem futuro uma nação, sem destino traçado
Foi se criando um ódio entre a população
O governo foi cobrado, prefeito indagado
Não pode um bando fazer tal judiação
Providências vamos tomar, coiteiros em ação
Foi formado um santuário de oração
Os peregrinos de todos os rincões
Ao Juazeiro rumaram com devoção
Contos, ladainhas, promessas e canção
Pra Mossoró se danô todos os cangaceiros
Dinheiro foi pedido com prazo de cobrador
Mas o prefeito homem honesto e lutador
Clamou os homens da cidade e quem não fosse traidor
Espremidos em paus de arara caros e a pé
Iam surgindo de todas as bandas
Homens e mulheres atrás de ganhar
A graça alcançada e a promessa pagar
Às quatro horas da tarde o ataque começou
Nos quatros cantos da cidade a bala ecoou
Os homens da cidade armaram a emboscada
Um tiro certeiro acertou colete e ficou lá
Hoje no Juazeiro a cada ano aumenta
Romeiros, estudiosos e pesquisador
Todos vão conferir o que faz a fé do povo
E fica abismado, um padre ser tão louvado
Jararaca o temido que fez toda a confusão
O pivô de toda aquela perdição
Levou um tiro nas costas e o inferno clareou
O bando saiu correndo e cidade festejou
Um povo sofrido a seca e o desemprego
Maus políticos ladrão, tudo junto agora
E danada da inflação, só resta a nós
A fé no Deus e no padre Ciço Romão
A chuva de bala de Mossoró
Ate hoje nos quatro cantos ecoa
A igreja tem onze tiros de recordação
Mas a bravura dos homens é de admiração
Na matriz o povo todo reza com o terço na mão
Os pedintes nas portas pedem esmolas
O cego entoa há anos a mesma canção
E Dona Zú sobrevive vendendo arroz e feijão
Lampião com o seu bando saíram em disparada
Hoje em Mossoró todo mês de junho
O povo aclama a si mesmo pela façanha
Orgulho, coragem movido ao amor a sua campanha
No alto vê-se a estátua branquinha
Na sexta da paixão o povo sobe contrito
A via cruzes do cristãoAo subir as escadas que levam a sua salvação
E hoje depois de oitenta e três anos
Em Mossoró de comemora com grande espetáculo
Forró, quadrilhas, canjicas e quentão
O São João comemora a derrota de Lampião
Um padre um político um cristão
Homem honrado, sem mácula verdadeira em oração
Ganhava com a direita e doava com a esquerda
Assim nascia um ícone do nordeste honrando a nação
Este pequeno trecho na vida desses dois
Padre Cícero e LampiãoHeróis dos nordestinos, bandido eu não sei não
Quem julga são vocês, a história que contei.
Ed` Bernardo